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Estudo conclui que eventos extremos em SC ficaram mais frequentes nos anos de La Niña e neutralidade


Episódios intensos de precipitação são comuns em Santa Catarina. Em 2008, fortes chuvas causaram grandes inundações e deslizamentos de terra, afetando 1,5 milhão de pessoas, ocasionando 120 mortes e deixando 69.000 pessoas sem abrigo. Um trabalho da Pós-Graduação em Oceanografia da UFSC analisou alterações na periodicidade e intensidade dos eventos extremos em Santa Catarina, entre 1979-1999 e 2000-2015, relacionadas ao fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS).


O estudo desenvolvido pela aluna de mestrado Laís Gonçalves Fernandes sob orientação da professora Regina Rodrigues, constata que os episódios entre 1979-1999 aconteceram mais em fases de El Niño, porém no último período, 2000-2015, poucas ocorrências de El Niño foram observados no Oceano Pacífico. Contudo, os eventos extremos continuaram a ocorrer em Santa Catarina, inclusive se tornaram mais frequentes e intensos na primavera, em anos de La Niña e neutralidade.


Laís já tinha experiência na área antes de começar a desenvolver o estudo. Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) abordou um tema semelhante ao investigado no mestrado. No TCC foram analisadas anomalias positivas de precipitação mensal, ou seja, quando a chuva de todo o mês ficava acima da média mensal. No mestrado, o trabalho se aprofundou, e as análises passaram a ser feitas utilizando os dados diários de precipitação que caracterizam os eventos extremos, em que a precipitação acumulada em um curto período é tão intensa que ocasiona os desastres naturais, como por exemplo, as inundações e os deslizamentos de terra.


“Tentamos entender melhor o que está acontecendo nos eventos extremos aqui em Santa Catarina e o que essas mudanças têm relação com o fenômeno El Niño”. Laís conta que foram feitas diversas análises, estatísticas no computador, estudos da média da variabilidade da atmosfera e da superfície do mar, a partir de dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram).

 

Comportamento da temperatura da superfície do mar, TSM, (linha preta) na região do El Niño, no Oceano Pacífico, e da precipitação em SC (linhas cinzas) ao longo dos últimos 38 anos (1979-2015). O gráfico mostra que, entre 1979-99 os picos positivos de TSM, que caracterizam o El Niño, são acompanhados dos maiores valores de chuva mensal em SC, porém entre 2000-2015, este padrão não é mais observado, e períodos de La Niña (o inverso do El Niño) e de neutralidade do fenômeno ENOS são os períodos em que aconteceram as chuvas mais intensas. Gráfico: Fernandes & Rodrigues, 2017.

 

Os resultados do estudo mostram que os eventos extremos acontecem em anos com e sem a influência do ENOS. E também que um outro modo de variabilidade climática, conhecido como Oscilação Interdecadal do Pacífico (IPO), tem influenciado indiretamente a ocorrência destes eventos, pois a IPO favoreceu a ocorrência de episódios de La Niña e neutralidade entre 2000-2015, exatamente quando aconteceram os eventos extremos mais intensos na primavera, nas regiões do litoral e do Vale do Itajaí. Laís afirma que os estudos anteriores apontam com frequência o El Niño e os ciclones que se formam na região do oeste como influenciadores da ocorrência dos eventos, porque eles estudavam apenas até o período que realmente ele predominava, o ano 2000.

Houve um aumento de 4% para 8% na frequência de eventos extremos durante os meses de primavera. A precipitação em Santa Catarina nesta estação ocorre devido às frentes frias que passam no nosso Estado e também pelos eventos de circulação marítima, onde existe um anti-ciclone próximo da costa jogando umidade do mar para a região.


Isso resulta uma mudança inclusive na região onde está acontecendo os eventos extremos no Estado. Até o ano 2000, por meio dos episódios de ciclone que vem de oeste para leste, os eventos extremos aconteciam em maior número tanto no interior quanto na região costeira de SC, e agora, “no último período da primavera tivemos mais eventos na região costeira, pois não é mais o ciclone que vem de oeste para leste que influencia.” Trabalhos anteriores relacionados à primavera, afirmavam que a umidade dos eventos extremos do Estado vinha diretamente da Amazônia. “No nosso estudo pudemos ver que no verão e nos casos da primavera que não é em El Niño, a umidade vem diretamente do oceano atlântico, isso também é uma diferença que faz com que ocorra mais no litoral.”


O estudo também investigou de maneira inédita os eventos extremos que aconteceram durante o verão. Na região sudeste do Brasil, durante a estação, os eventos extremos de precipitação são ocasionados pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). As análises mostraram que em alguns casos, a ZCAS se estabelece ao sul de sua posição média, e que a sua persistência também ocasiona eventos extremos em SC, principalmente na região do litoral norte.


“Nas pesquisas mundiais há um indício de que os eventos extremos vão aumentar com as mudanças climáticas”, conta a professora Regina. Os desastre naturais acontecem por dois fatores principais: os eventos extremos, que em nosso Estado é associado às enchentes, deslizamentos de terra e seca; e a vulnerabilidade da sociedade, relacionada ao aumento populacional desordenado, e ocupação de áreas de risco. Regina conta que o atlas desenvolvido pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil da UFSC (Ceped), registra um aumento gigantesco nos desastres no Brasil e em Santa Catarina. Ela ressalta que o estudo desenvolvido por Laís sob sua orientação, precisa sair da academia e chegar nas redes públicas, pela importância para a sociedade catarinense.


Laís afirma que a população catarinense precisa ser amparada pelas políticas públicas para que consiga lidar melhor com a ocorrência dos eventos extremos, já que estes podem acontecer em cenários diversos (com ou sem ENOS) e em outras épocas do ano, além da primavera e do verão, que foram as estações do ano analisadas no estudo. Ela ressalta que os órgãos públicos catarinenses precisam de mais investimentos nesta área, exigindo um maior número de profissionais, além da capacitação contínua para os que já atuam, para que a emissão de alertas e o monitoramento dos eventos extremos seja cada vez melhor, e a prevenção das mortes seja mais frequente do que somente a reparação dos prejuízos econômicos.


Algumas instituições estudam o clima de Santa Catarina e em especial os eventos extremos. A professora Regina, coordena o grupo de pesquisadores da UFSC dentro da sub-rede de desastres naturais da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima). Esta organização reúne pesquisadores que estudam os impactos da mudança climática em várias áreas. A coordenação da sub rede de desastres naturais, foi dada à UFSC pelo reconhecimento de o Estado sofrer muito com os desastres naturais e ter o conhecimento do assunto.


Fontes: Diana Hilleshein/Estagiária de Jornalismo da Agecom/UFSC e Portal Notisul

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